Rio sob intervenção: execução de Marielle segue sem solução e, nas favelas, chacinas continuam

Operação na Rocinha, no Rio de Janeiro

Às vésperas de completar 15 dias da execução da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Pedro, os governos e a polícia seguem sem solucionar o brutal assassinato.

Os governos Temer, Pezão (governador) e Crivella (prefeito) e a PM permanecem em silêncio sobre as investigações, sem indicar o avanço na apuração do crime e sem dar respostas a questões como quem a matou, os mandantes e por quê.

Até agora foram divulgadas apenas as imagens que mostram o carro, onde estava Marielle, Anderson e uma assessora, sendo vigiado e seguido. Os assassinos estavam de tocaia à espera da vereadora, que participava de um evento com mulheres negras na região da Lapa.

Segundo a perícia, os 13 tiros disparados contra o carro foram direcionados à vereadora, atingindo indiretamente o motorista.  A munição pertencia a um lote vendido para a Polícia Federal de Brasília em 2006 e é a mesma de parte da munição utilizada na maior chacina do estado de São Paulo, em 2015. Segundo reportagem do G1, de 11 câmeras instaladas nas proximidades do trajeto percorrido pelo carro e no local dos disparos, apenas cinco estavam funcionando.

Especialistas cobram solução rápida

Um grupo de relatores independentes de direitos humanos das Nações Unidas classificou nesta segunda-feira (26) de “muito alarmante” o assassinato da vereadora. “Sua morte é alarmante já que claramente visa intimidar todos aqueles que lutam pelos direitos humanos e pelo Estado de Direito no Brasil”, dizem os especialistas.

“Pedimos às autoridades brasileiras que usem esse momento trágico para rever completamente suas escolhas na promoção da segurança pública e, particularmente, para intensificar substancialmente a proteção dos defensores dos direitos humanos”, acrescentam.

Os relatores lembram que Marielle era uma defensora dos direitos humanos e uma crítica feroz do decreto que autorização a intervenção federal no Rio de Janeiro.

No final de semana antes de sua morte, Marielle havia feito duras críticas a abusos cometidos por policiais, em especial do 41º Batalhão de Acari, conhecido como Batalhão da Morte. A vereadora também havia assumido duas semanas antes a relatoria de uma Comissão na Câmara Municipal para acompanhar a intervenção militar no Rio, a qual também era crítica.

Enterro de jovens em Maricá causou comoção

No Rio sob intervenção, chacinas seguem

Mas não é somente a execução de Marielle que segue sem solução no Rio de Janeiro sob intervenção federal e com o Exército nas ruas. O último final de semana foi marcado vários tiroteios e duas chacinas que mais uma vez chocaram.

Um deles foi na Rocinha. Na versão da PM, policiais do Batalhão de Choque faziam patrulhamento quando foram recebidos por tiros e reagiram. As famílias dos mortos dão outra versão. Disseram que a polícia invadiu um baile funk na comunidade e, segundo testemunhas, chegou atirando. Pelo menos três vítimas não tinham passagem pela polícia.

Uma delas era o dançarino Matheus Duarte de Oliveira, 19 anos. Ele era integrante do projeto social Valsa Noite de Encanto e dançava em festas de debutantes. Na sexta-feira, ele saiu de casa por volta das 19h, e dançou vestido de cadete da Marinha numa festa de 15 anos em São Gonçalo. Na volta, foi para um baile funk, onde foi assassinado.

“Mais um negro e favelado nas estatísticas dessa cidade. É muito fácil dizer, sem provar, que o Matheus era bandido. Não era! Ele dançava em troca de um cachê, enquanto não arranjava um emprego fixo. Tinha acabado de tirar a carteira de trabalho. Antes de ser assassinado, tinha se apresentado. Para mostrarmos que ele não era bandido, vamos levar todos os seus colegas do projeto ao sepultamento vestidos a rigor”, disse um professor de Matheus ao Jornal do Brasil.

Em Maricá, região metropolitana do Rio, cinco jovens foram vítimas da ação de milicianos que agem na região. Também eram jovens, de 16 a 19 anos, que não tinham passagem pela polícia.

Pelo fim da intervenção no RJ

Como já havia sido denunciado por movimentos sociais, organizações de esquerda e moradores do Rio de Janeiro, a intervenção feral não resolveria o sério problema de segurança pública da capital carioca, muito menos os problemas sociais. Ao contrário, traria o agravamento desses problemas, penalizando a população trabalhadora pobre e negra carioca.

A cidade sob a violência das tropas do Exército é que permitiu o clima de impunidade para que a execução de Marielle acontecesse, bem como a violação de direitos da população trabalhadora.

Em resolução da sua última reunião da Coordenação Nacional, nos dias 9, 10 e 11 de março, a CSP-Conlutas defende o fim da intervenção federal e da militarização do Rio de Janeiro.

A Secretaria Executiva Nacional (SEN), da Central, reunida no último dia 22, reafirmou que é preciso nos mantermos nas ruas com grandes mobilizações como vem ocorrendo desde o assassinato de Marielle e Anderson e aprovou buscar a construção de um grande dia de protestos, em uma ampla unidade de ação, para marcar os 30 dias deste crime brutal e pelo fim da intervenção federal.

 

 

Fonte: CSP-Conlutas Nacional